É claro que Pazhitnov foi de um extremo a outro: saiu do comunismo e, por ter passado toda a vida reprimido, acha que a solução é "liberar geral". Ele, inclusive, se contradiz. P.ex., ele diz que o software livre não tem projeção de mercado e logo depois ele diz que SL destrói mercado. Como é que algo que não tem projeção de mercado destrói mercado?
Mas o ponto principal é que ele fala em causa própria. Ele vive de vender programas. Ora, se ele ficou rico vendendo programas (ou fazendo programas para a Microsoft vender), como é que ele poderia achar que é bom não vender programas?
Então, é apenas uma opinião como qualquer outra e não é das mais abalizadas porque, depois do Tetris, não é citado nada significativo que ele tenha criado (não estou desmerecendo o Tetris, no qual eu gasto algum tempo de vez em quando, mas simplesmente colocando um fato). Ele esquece, inclusive, que mesmo em um mercado capitalista existe espaço para trabalhos sem fins lucrativos, como é o caso das milhares (ou milhões) de pessoas que, no mundo todo, fazem trabalho voluntário (e um dos países em que isso é mais forte é justamente na meca do capitalismo, que é os EUA). E sem falar também na Internet, cujos principais avanços que a viabilizaram foram desenvolvidos em meios acadêmicos sem fins lucrativos. Sem pensar muito, dá para destacar o trabalho de Tim Berners-Lee, que criou a World Wibe Web sem qualquer finalidade lucrativa (e até hoje vive de seus trabalhos acadêmicos e de consultoria, não tendo nem ficado rico com uma das maiores invenções do século XX) ou o pessoal que fez, em um laboratório, o Mosaic que depois virou Netscape e que deu início a todos os browsers que estão por aí no mercado.
Além disso, ele dizer que o software livre não traz desenvolvimento tecnológico é realmente olhar o mundo real com viseiras. Sem falar de novo na WWW ou no Mosaic, quanto de evolução tecnológica foi obtido com as milhares de pessoas que dedicam parte do seu tempo para desenvolver software livre sem pensar em ganhar com isso? Além disso, muitos dos movimentos da Microsoft foram feitos exatamente para enfrentar o software livre. Se ela não tivesse a concorrência (inclusive do próprio software livre), ela estaria até hoje acomodada lá no seu DOS ou, no máximo, em um Windows 3.1 ou algo do gênero.
E, para completar, na entrevista, tanto ele quanto o entrevistador, cometem um engano. Eles falam como se a Internet, no tempo da cortina de ferro, já fosse uma realidade aqui no mundo ocidental e não existisse na URSS. A internet, antes da queda do muro de Berlim, era apenas uma rede acadêmica ligada ao Departamento de Defesa dos EUA (e, portanto, sem gerar qualquer lucro) voltada apenas para troca de e-mails e para uso de algum processamento remoto, tudo feito no modo texto e sem interface gráfica. Não era nem sombra do que é hoje e só se viabilizou para chegar onde está justamente pelos trabalhos de Berners-Lee e do Mosaic, que só se tornaram realidade no comecinho da década de 90, quando a URSS não existia mais (o 1o. site www de Berners-Lee foi colocado no ar, se não me engano, em 1991). As coisas evoluem tão rapidamente que as pessoas às vezes se confundem com as datas e pensam que o que está aí sempre esteve. Só para lembrar: o PC da IBM, que começou, de fato, a difusão dos microcomputadores e que viabilizou empresas como a Intel e a própria Microsoft, foi lançado em 1981. Portanto, só 7 ou 8 anos antes da queda do muro de Berlim.
Ou seja: é uma entrevista para ler e se esquecer.