Dez anos atrás, as universidades norte-americanas começaram a se comunicar com seus alunos via email. Todo aluno tinha direito a sua própria caixa postal e, nela, recebia tudo que havia de importante para se saber da vida no campus. Não está dando mais certo: os alunos não lêem email.
Em 2005, um estudo detalhado do Instituto Pew, nos EUA, já indicava uma tendência de os adolescentes usarem email para se comunicar apenas ‘com os mais velhos’.
Não é difícil perceber a tendência: jovens, sejam adolescentes, estejam já na casa dos vinte e poucos, usam a internet, passam horas e horas online, mas as caixas postais eletrônicas ficam de lado. A comunicação se dá através de vários outros meios. Mensagens instantâneas, por exemplo, do tipo MSN Messenger. Ou o Twitter – espécie de blog minimalista que permite a qualquer um fazer pequenos updates a respeito do que estão fazendo. Ou mesmo o bom e velho SMS, mensagens de texto pelo celular.
Particularmente populares entre jovens são os sites de relacionamento como nosso Orkut infestado de brasileiros, ou equivalentes globais, como MySpace ou o crescentemente popular Facebook. É onde mensagens são deixadas para todo mundo e a vida social eletrônica ocorre. Email? Email é coisa de velhos.
O email tem vantagens que mensagens instantâneas não têm. Por email é muito simples enviar arquivos, por exemplo. Por natureza, o email armazena todo o passado daquela conversa–- e não carece nenhum comando para manter tudo guardado para futura referência. O email é prova de que uma conversa se deu. E o email não requer uma resposta instantânea: pode-se guardar a mensagem, pensar nela com carinho, responder com calma no dia seguinte.
Com todas essas vantagens, não é surpresa que seja um instrumento de comunicação para velhos. Afinal, o email prova-se ideal para trabalho, não para a conversa comezinha do dia-a-dia, para marcar o chope da noite ou se atualizar a respeito de quem ficou com quem na festa de anteontem. Sim: trata-se de um choque cultural.
O que surpreende, por certo, é como veio rápido esse choque cultural. O ano de 1996, quando a internet começou para a maioria dos brasileiros – ou mesmo 1994, quando começou para a maioria dos americanos – está logo ali na esquina. O email ainda tem uma cara de tecnologia recente. E, é bem possível, já está caindo em desuso.
A dúvida que sobra é se jovens passarão a usar email quando ficarem mais velhos e forem trabalhar ou se levarão seus novos hábitos para os escritórios que ocuparão.
Por enquanto, SMS ainda não é de amplo uso através das gerações – e talvez jamais venha a ser. O iPhone apostou nisto: não passa mensagens de texto. Derrapada da Apple?
Celulares provavelmente vão definir a maneira mais habitual de conversa digital. Em algum tempo todo celular será inteligente – um iPhone, um Google ou o que for. O que funcionar melhor neles será, provavelmente, o padrão. (E não é arriscado dizer que os mais jovens é que decidirão o que for melhor.)
Até lá, não há muita saída cá para os dinossauros do tempo do email. Poderemos até continuar com nosso correio. Mas cientes de que há uma turma que não responderá nossas mensagens. E não será, como era em 1996, porque são mais velhos.
*pedro.doria
Jornal o estado de S.Paulo de 19-11-2007