Folha de SP - PC Conectado - dia 22/02 caderno informática
PECHINCHA DIGITAL
Falta de compatibilidade do Linux e limitações impostas pela Microsoft tornam PC mal aproveitado
Sistemas pioram desempenho do micro
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem decidir comprar um computador popular precisará conviver com limitações que vão além da configuração das peças da máquina. Para reduzir custos, as fabricantes decidiram usar sistemas operacionais baseados em Linux ou uma versão limitada do Windows, a Starter Edition. Ambos atendem às necessidades básicas de um usuário iniciante, mas apresentam barreiras para um uso pleno das configurações oferecidas pelas máquinas.
Tanto no Linux quanto no Windows é possível navegar na internet e usar ferramentas de escritório com facilidade. Jogos e programas mais pesados, como editores de imagens e tocadores de vídeo, por outro lado, apresentam lentidão e, muitas vezes, não têm sua instalação concluída.
PC com Linux
Durante os testes com três versões do Linux distribuídas nos computadores de preço baixo (Kurumin, Conectiva e Insigne), a reportagem encontrou dificuldade em realizar tarefas como instalar uma impressora, descarregar fotos de uma câmera digital e instalar e desinstalar programas.
Apesar de contar com até seis portas USB, as máquinas que usam Linux não têm reconhecimento automático dos dispositivos e, assim, não aproveitam os recursos do hardware.
Para obter êxito nas tarefas citadas, foi preciso realizar ajustes usando comandos de texto no terminal do Linux (ambiente equivalente ao DOS das antigas versões do Windows), uma técnica complicada para iniciantes.
A aparência dos sistemas Linux é bastante amigável e os pacotes de programas que vêm instalados oferecem mais serviços do que os softs que acompanham o Windows. Outra vantagem do sistema gratuito é a segurança. Programas espiões e vírus raramente causam estragos ao Linux, que usa proteção por senha na instalação de pacotes como padrão.
PC com Windows
No quesito compatibilidade com dispositivos externos, o Windows Starter Edition tem o mesmo potencial que as outras versões do sistema. Isso quer dizer que qualquer câmera digital, drive externo ou periférico conectado via USB são reconhecidos automaticamente e podem ser usados sem dificuldades.
Na parte interna, a situação é diferente. O Starter Edition só permite que três programas sejam abertos simultaneamente e não reconhece novas peças instaladas -o que impossibilita uma futura melhora no hardware do PC. Não é possível nem mesmo adicionar mais do que 256 Mbytes de memória RAM, um upgrade aconselhável para os micros populares, que já têm processadores lentos e pouco espaço em disco.
Apesar das limitações nos sistemas operacionais dos computadores mais baratos, é possível ganhar em produtividade sem apelar para a pirataria. No Linux, uma opção é usar as ferramentas de instalação automática, como o apt-get e o Synaptic (
www.nongnu.org).
Com eles, os programas são baixados e instalados automaticamente, e não é preciso procurar por acessórios exigidos (dependências). No caso do Windows, a saída para um melhor aproveitamento da máquina também passa pelo mundo do código aberto. O exemplos mais famosos são o navegador Firefox (
www.getfirefox.com) e o pacote OpenOffice.org (
www.openoffice.org.br). Para encontrar softs específicos, uma visita aos portais de download também pode ajudar. Alguns exemplos são o Softpedia.com e o Super Downloads (
www.superdownloads.com.br)
Pela primeira vez na vida estou escrevendo em um editor de texto que não é o Word nem o bloco de notas do Windows. É o editor do Conectiva Office, para Linux. A experiência não parece nova, tudo parece idêntico ao Word. As ferramentas, os menus, a tela, tudo. Mas, se além de escrever eu quiser formatar o texto, mudar cores ou inserir caracteres especiais, começo a ver diferenças. Colorir caracteres dá um certo trabalho. Descobri que, para fazer isso, é preciso clicar e manter o botão pressionado em vez de apenas apertar o botão. É uma tarefa insignificante, mas você precisará descobrir como fazê-la. A área de trabalho do Linux também é semelhante à do Windows e, por isso, tive certeza de que não teria problemas em utilizar o computador. Existe um editor de planilhas, como o Excel, um processador de textos, como o Word, e um programa de apresentações, como o PowerPoint. Quando usei esses softs, porém, percebi as diferenças. O usuário do Windows vai precisar exercitar a "arte de fuçar" para aprender como as coisas funcionam. Nem tudo é igual. O editor de textos parece com o Word, mas não é o Word, e assim por diante. A primeira tarefa que quis realizar foi aumentar a definição da tela, para que as letras não fossem tão pequenas, pois tenho problema de visão. Seguindo mais ou menos o que eu fazia no Windows, procurando aqui e ali, eu cheguei lá de maneira relativamente fácil. Não há, no Linux, um corretor ortográfico e, como digito rapidamente e não quero perder tempo com revisões, esse recurso me ajudaria muito. Pode ser que o corretor ortográfico exista e esteja desativado, mas, para descobrir isso, eu teria que pesquisar no micro. Chega uma hora em que essa busca fica cansativa. A sensação que se tem é a de que tudo está ali, mas organizado de forma estranha. Parece igual, mas não é. Se você já está acostumado com o Windows, logo vai se perguntar por que usar o Linux. Por que perder tempo procurando funções, por que se tornar especialista em software, se você já sabe usar outro que faz exatamente a mesma coisa? No começo, o Linux era interessante pela curiosidade da descoberta, mas, depois, ele se transforma em uma verdadeira prova de paciência.
Marcos Sanches é estatístico e foi convidado a testar o sistema operacional Conectiva Linux do micro da Positivo, vendido pelo programa "Computador Para Todos"
(JB)