Senhores,
Vou narrar aqui toda a minha longa odisséia em direção ao Linux. Digo odisséia não pelas dificuldades, mas pelo tempo transcorrido. Será um relato um tanto impreciso pela falta de confiabilidade da minha memória, mas que acho válido para que os usuários mais experientes e que muitas vezes são profissionais da área de TI possam conhecer o lado do usuário leigo. Sou economista e uso a informática como um meio e não como fim. Por isso, o que importa pra mim são as funcionalidades e se atende as minhas necessidades e não as vantagens técnicas de um ou outro SO em relação ao concorrente.
Meu primeiro computador foi um 486 DLC com Windows for Workgroups. Depois vieram um 486 DX2 66 MHz com um Windows que eu nem lembro mais qual era e um Pentium MMX 133Mhz com Windows 95. Foi nessa época que fiquei sabendo que existia um sistema operacional gratuíto que poderia ser um substituto do Windows. Como o Pentium MMX que eu possuía já tinha sido comprado em uma grande loja (o saudoso Mappin), o meu Windows já estava pago e eu não via muito sentido em trocar um sistema operacional que me atendia muito bem e que já havia sido pago por um outro sobre o qual eu nada sabia e ainda envolveria um procedimento de instalação do sistema, o que era muito obscuro para mim. Nessa mesma época conheci um advogado que, apesar de não ser da área de TI, demonstrava ser um entusiasta da área e sempre que nos encontrávamos ele contava orgulhoso suas conquistas no mundo Linux. "Hoje consegui fazer funcionar a placa de som! Agora só falta o modem para eu poder me livrar de vez daquela *&#*"# do Windows!". Isso só reforçou minha convicção de que tal sistema não servia para mim. Depois de instalar ainda tinha que ficar dias e dias pesquisando na internet para colocar a placa de som, o modem e sabe-se mais o que para funcionar? Ah, não! Não dá pra mim! Como disse, a informática para mim é um meio e não um fim e não estava disposto a despender todo esse tempo em pesquisa. Mas desde aquela época ficou plantada a sementinha da curiosidade e fiquei também com a convicção de que algum dia iria usar o tal do Linux.
O tempo passou e o meu computador seguinte foi um Celeron 300 MHz, todo montado por mim. Nessa época eu estava interessado em informática, lia bastante sobre e tive vontade de montar um computador. Como bom usuário leigo e medroso, comprei um livro enorme que ensinava passo-a-passo como montar um computador, com todos os detalhes, desde os parafusos usados até a instalação do sistema operacional. E qual era as opções para o SO? O Windows 95 e o Windows 98. Claro que medroso como era, não me arriscaria a fazer qualquer coisa de diferente do que o livro ensinava. Comprei o Windows 98, instalei e toquei a vida.
O próximo foi um Athlon XP 2200+ com windows XP. Nessa época já tinha passado a minha fase de hobbysta de informática e não me interessei em montar o computador. Na verdade comprei de emergência. Faltava uma semana para entregar minha tese de mestrado e o computador morreu. Peguei o computador e levei para a única loja de informática da cidade (na época estava morando em uma pequena cidade do interior do Paraná). Contei a estória e disse que só compraria o computador se pudessem colocar o HD do falecido computador no novo que eu estava comprando. No desespero de entregar a tese não me importei que o Windows XP que o computador que eu estava comprando não era oficial. Passado a semana crítica, tese defendida e mestrado completado, achei que seria a oportunidade ideal para experimentar o Linux. Afinal não queria ficar na ilegalidade. Escolhi o Kurumim, aproveitando o fato de que este rodava direto do CD, sem precisar instalar no HD. Assim poderia testar o sistema e ainda teria uma segurança de continuar com o Windows caso alguma coisa não funcionasse ou eu não conseguisse usar o sistema. A minha primeira experiência foi muito boa. Achei o sistema bonito, fácil de usar e recheado de programas. E tudo de graça! Até a internet funcionava, o que era um problemão na época para computadores que usavam modens on-board, como era o caso do meu. O Kurumim tinha uns scripts que faziam funcionar o modem. Como exatamente eu não sei, mas funcionava. Bastava escolher o modelo do meu modem de um lista que existia. Aí o tal do script rodava e o modem conectava. Ousando um pouco mais, instalei o Linux em dual boot com o Windows XP que já existia. Usei assim por um tempo até perceber que acabava usando quase sempre o Windows por comodismo, já que tinha minhas dificuldades com o Kurumim por falta de costume com o sistema. Assim tirei o Windows e instalei o Kurumim sozinho no HD. Assim me forçaria a usar o Kurumim e aos poucos aprenderia todos os seus macetes. Porém... sempre tem um porém... Minha esposa já usava o computador também e ficou uma fera ao ver que não tinha mais a opção de iniciar com o Windows. Consegui acalmar a fera e mostrar que ela poderia usar o Kurumim. O uso dela se limitava a ler uns blogs na internet e claro que eu pensava que não haveria problema quanto a isso. Ledo engano... dos cerca de 12 blogs que ela lia, um deles, apenas um, tinha problemas com o Firefox. A página ficava toda zoada e os textos ficavam por cima das fotos. Pesquisei sobre o problema e a resposta que consegui é que isso era problema de programação da página. Que esta não seguia os padrões internacionais e a única forma de resolver o problema era instalar o Internet Explorer. Não lembro agora se era usando o Wine ou instalando o Windows em uma máquina virtual. De qualquer forma, precisaria comprar uma licença do Windows, justamente o que eu queria evitar. Até tentei convencer a fera a desistir daquele blog. Afinal, era apenas um entre 12. Ela até desistiu mas quando aconteceu a mesma coisa com outro que ela queria acompanhar aí não teve jeito. E já que eu teria que gastar com Windows, por que continuar com o Linux? Então voltei com o Windows XP.
Mais um tempo transcorrido e compramos um computador para a família, afinal o meu filho mais velho já tinha idade para começar a usar computador e internet. Comprei um Positivo Celeron, 1 GB de memória que veio com Windows Vista Starter. Nesse nem pus a mão. Era para uso da família e assim ficou. E o Athlon velho de guerra ficou para uso exclusivo meu. E aí pensei... é agora! Vou instalar o Linux e aprender a usar esse negócio. Mas muito tempo havia passado e muita coisa havia mudado... para pior no meu caso. O Kurumin havia sido descontinuado (pelo menos foi o que entendi) e o Atlhon XP quebrou o conector de vídeo da placa-mãe e eu, para não ter que comprar outro computador ou outra placa-mãe, instalei nele a placa de vídeo que estava naquele computador Celeron 300 MHz que eu havia montado (lembram dele?). Uma poderosa placa de vídeo PCI com 4 MB de memória. No Windows até que funcionava razoável. A rolagem das telas ficava engasgada, mas usável e eu até jogava uns joguinhos em flash on-line. Escolhi o Mandriva KDE e para minha decepção, qualquer movimento do mouse provocava um monte de chuviscos na tela e os joguinhos Flash viraram um sucessão de slides. Caramba!!! Sempre pensei que o Linux fosse mais eficiente! Por que o Windows XP consegue melhor desempenho que o Linux com minha placa de vídeo capenga? Enfim... voltei com o XP.
E finalmente, chegamos no presente... Aposentei meu velho Atlhon XP 2200+, 256 MB de memória, 20 GB de HD e placa de vídeo legada de um antigo Celeron 300 MHz e comprei um notebook Gigabyte Core 2 Duo, 4 GB de memória e 260 GB de HD. Bela evolução, não? Ironicamente, quando estava escolhendo o notebook, todas as opções eram com Linux, pois não estava disposto a pagar muito e sempre olhava os modelos mais baratos, menos esse. O meu notebook era o único que vinha com Windows Vista e ainda assim tinha um preço no mesmo patamar dos outros. Continuaria com o Vista se o fabricante não fizesse o pouco caso de instalar uma versão do Vista de 32 bits e, consequentemente, o notebook só podia trabalhar com 3 GB. Eu é que não iria ficar com um notebook com 4 GB só podendo usar 3 GB. Sei que posso pedir a versão de 64 bits do Vista para a Microsoft, mas já que eu estava disposto a usar o Linux, instalei o Ubuntu 64 bits e há estou usando-o há cerca de 20 dias.
Minhas impressões: está muito melhor em relação ao antigo Kurumin que usei por um tempinho, mas ainda tenho algumas dificuldades.
-De início, não funcionava o Flash. A instalação do flash foi automática através do próprio Firefox, mas estranhamente algumas coisas funcionam, outra não. Exemplo: vídeos no YouTube funcionam normalmente. A página da Adobe também indica que o Flash está instalado corretamente e a animação funciona, mas as charges do site
www.charges.com.br não rodam. A imagem aparece, como se tudo estivesse normal, mas ao dar "Play", nada acontece.
- O acesso aos bancos não funcionava, mas um colega do trabalho instalou algumas coisas que eu não sei o que são e agora está funcionando. Agora está ok, mas o processo não foi como deveria ser. Instalei a máquina virtual Java, mas mesmo assim não funcionava. Esse meu colega que resolveu o problema também estranhou e não foi de bate-pronto. Teve que dar uma pesquisadinha na internet.
- Áudios dentro de páginas também tiveram um comportamento estranho. Os áudios da CBN Campinas (
www.cbncampinas.com.br) funcionavam normalmente, mas não os da CBN (
www.cbn.com.br). E aparentemente, o plugin requisitado era o mesmo. Novamente meu colega engenheiro resolveu, mas também não sei como.
- O microfone funciona normalmente no Skype e a webcam também, mas um curso virtual que fiz que se utiliza do Firefox para a interação não conseguiu ativar a webcam nem o microfone. Resultado: fiquei sem poder perguntar através de som e também não era visto pelos demais participantes. Farei outros cursos pela mesma plataforma e até agora não consegui resolver o problema.
- Após tanto tempo das minha frustada experiência com o blog que minha esposa lia, ainda existem problemas em páginas da internet. O site
www.exame.com.br, por exemplo, fica um pouco zoado. Pouca coisa, mas há alguns probleminhas. Estranhamente, o mesmo Firefox abre a mesma página perfeitamente quando é a versão Windows.
Mas dessa vez vim para ficar...