"É a política do software livre contra o livre mercado."
Nunca li uma frase tão tola na minha vida. O que tem uma coisa a ver com a outra? O que há de oposição ao livre mercado no software livre? Oposição ao livre mercado está no virtual monopólio que a Microsoft exercia antes que o Linux se difundisse no mundo. E que tem a ver a política de promoção do software livre com a questão das urnas eletrônicas. Ou é muita ignorância ou é muita má-fé.
É uma matéria cheia de preconceitos e meia-verdades, feita sob medida para confundir o leitor-eleitor e desmoralizar o apoio público ao software livre. Mas é típico desta revista fortemente ideológica fazer-se porta-voz de todas as opções ultra-liberais que existam para cada problema, sempre, é claro, sob argumentos pretensamente técnicos.
Infelizmente, o ambiente político brasileiro não é de fato muito propício à expansão do software livre. Eu mesmo não vejo hoje em qualquer outro partido, salvo o PT - pelo qual, aliás, não sinto a menor simpatia -, a menor boa-vontade em relação ao software livre. Ignorância e preconceito se associam para que boa parte dos políticos veja o open source com muita má-vontade.
Mas é sintomático da má-fé exibida pela matéria em questão o fato de que nem sequer se tocou no sucesso do programa Computador para todos, pelo qual centenas de milhares de brasileiros passaram a ter acesso a um computador pessoal e a Internet. Talvez seja este mesmo o problema do software livre no Brasil: ele está chegando às massas e - com isto - assustando os fabricantes de software de distribuição restrita, que passam então a usar do seu amplo poder de fogo para fazer propaganda contra a sua adoção. É uma campanha que vai desde a concessão de palestras gratuitas por executivos da Microsoft em órgãos públicos (como Câmaras Municipais) ao pagamento de viagens a Deputados Federais ou, até mesmo, a matérias como estas, que são menos jornalismo que discurso ideológico.